quinta-feira, 5 de maio de 2011

É assim, ó

O assim é daquela forma. Daquele jeito que eu te falei, pô. Da maneira contada da forma mais maneira possível. Não lembra? Foi assim. Assim que eu digo. E olha que eu digo mesmo! O jeito mais possível e a forma mais digna de se ouvir isso é da maneira que foi dita, de alguma forma inadmissível e inesperada, no mínimo oculta, porém falada, cuspida, sussurrada, cagada. Engraçada. Engraçado que sempre as vogais não falham, nem a farinha engasga ou gruda no céu da boca. A definição desta palavra e o objetivo final desta obra mal acabada é para.

Tu é garoto

-Caraca, já ouviu o cd novo do Bach?

-Hello, Bach não existe mais...

-Que isso, o cara da loja falou. Tava tocando e eu comprei.

-Ah, deve ser uma coletânea nova...

-Sei lá, só sei que gostei do tal de Sebastião.

-Johan Sebastian Bach, grande organista e compositor alemão.

-Quê? Ele é médico também?

(...)

-Organista. Ele toca orgão. Instrumento de teclas.

-Entendi. Tipo aquele piano do The Doors, né?

-Isso. Tipo um piano do The Doors. Mas The Doors é rock.

-Sei...Tô começando a curtir esse negócio de música clássica, viu? Até comprei o cd do Miles Davidson outro dia.

-Miles DAVIS, cara. E Miles não é música clássica. É jazz. JAZZ!

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segunda-feira, 2 de maio de 2011

As terras terríveis

As terras terríveis de Seu João, onde habitam e habitarão pessoas e espécies de todo escalão, do mais baixo ao mais são, do qual ninguém são levantasse a voz ou a mão. Terra seca, sofrida, a rouquidão na garganta explica, as amigdalas já não existem: extraídas! Mas ao sudoeste os cavalos não empacam, deitam. E as mulheres não prestam. Não prestam o papel de ser o que não são. Seu Zé também não deixa mole. Faz no fim do dia seu chá de catuaba e arrocha sua coxa nas primas gostosas, e boas, muito boas. Deliciosas. Numa esquina escura, diante de toda a fome, uma baiana de acarajé oferece a fé. -Com pimenta? Pouca. Disse o garoto bobo que tão pouco depois queimara a língua. São as terras de minha tia. Tia Soninha, Tia Jacira, que não é tia, mas tia minha é. Lá o sol assa. Arranca couro de bode, e a buchada já vem podre. Terra de ninguém. Ninguém mesmo. Nem o dono das terras, nem Seu Zé, nem seu agiota é idiota por responsabilizar-se pelos acres desta terra desgarrada. No dia de assinar o contrato, o dia parou. Notícia virou fato. Deu na TV, nas rádios...Ninguém foi achado. Nem os homens, nem a polícia, nem bandido, nem o branco, nem o negro, nem o padre e nem o pardo. Nem mesmo a pobre da caneta esferográfica. Nos dias dos dias seguintes, toda flor foi preservada, e as águas de todos os cactos já tinham secado. Mas um sorriso na boca de alguém, que dalí, chamou a atenção dos sete meninos que haviam entrado na casa de Dona Zenita pra comer feijão em dia de São Cosme e Damião. E o pedido foi feito pra essas terras de ninguém, que se saiba, que se salva. Há crenças e cantigas e orações que amenizam o rosto pesado de mil rugas que se alastram da testa ao tornozelo, das voltas e curvas das rugas da face das velhas e velhos, não tão velhos, mas já gastos, suados, usurpados, queimados pelo sol. Arranca couro. Fede. A flor de mandacaru que nasceu na terra crua anuncia o sinal de chuva que São Pedro irá jogar! O jogo de amarelinha que as crianças na rua pulam não sabem o motivo e o céu que ainda irão chegar.

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