quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A velha na calçada

A boca da velha solta palavras tortas, assim como seus dentes. Um batom vermelho desbota e falha entre as dobras dos seus lábios velhos, gastos e rachados. Seus olhos, meio perdidos, olham mas não vêem. Não sei pra onde. São vagos, tristes e sem alvo. Solta palavras de desagrado, enquanto um moço moreno e magro, debochado, ri e a imita em voz alta. Ela não percebe que está sendo caçoada. Um casal jovem passa de mãos dadas e pensam no possível motivo das altas gargalhadas do rapaz magro e do povo que assiste ao show de horrores no meio da calçada, que ferve os pés do garoto mendigo que passa correndo e pisa na terra para amenizar a dor, pois anda descalço. A velha anda um pouco e para. Anda para a sua direita, inconformada mas conformada, pois não houve respaldo. Ela para, diz que vai mas não vai. Olha pra trás e reclama. Eu observo. O entregador da farmácia passou de bicicleta em velocidade alta no meio da calçada, que ferve, e quase atropela a velha acabada. Sua bolsa cai, ela grita e pensa que está sendo assaltada.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Espresso

Tomo café pra acordá
Cadê o papel pra coá?
A água escorre pra dentro do copo
onde o açucar tá pra adoçá.
Do café a cafeína,
Da coca a cocaína.
A menina que vem e me toca
chupa a minha língua.

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