segunda-feira, 2 de maio de 2011

As terras terríveis

As terras terríveis de Seu João, onde habitam e habitarão pessoas e espécies de todo escalão, do mais baixo ao mais são, do qual ninguém são levantasse a voz ou a mão. Terra seca, sofrida, a rouquidão na garganta explica, as amigdalas já não existem: extraídas! Mas ao sudoeste os cavalos não empacam, deitam. E as mulheres não prestam. Não prestam o papel de ser o que não são. Seu Zé também não deixa mole. Faz no fim do dia seu chá de catuaba e arrocha sua coxa nas primas gostosas, e boas, muito boas. Deliciosas. Numa esquina escura, diante de toda a fome, uma baiana de acarajé oferece a fé. -Com pimenta? Pouca. Disse o garoto bobo que tão pouco depois queimara a língua. São as terras de minha tia. Tia Soninha, Tia Jacira, que não é tia, mas tia minha é. Lá o sol assa. Arranca couro de bode, e a buchada já vem podre. Terra de ninguém. Ninguém mesmo. Nem o dono das terras, nem Seu Zé, nem seu agiota é idiota por responsabilizar-se pelos acres desta terra desgarrada. No dia de assinar o contrato, o dia parou. Notícia virou fato. Deu na TV, nas rádios...Ninguém foi achado. Nem os homens, nem a polícia, nem bandido, nem o branco, nem o negro, nem o padre e nem o pardo. Nem mesmo a pobre da caneta esferográfica. Nos dias dos dias seguintes, toda flor foi preservada, e as águas de todos os cactos já tinham secado. Mas um sorriso na boca de alguém, que dalí, chamou a atenção dos sete meninos que haviam entrado na casa de Dona Zenita pra comer feijão em dia de São Cosme e Damião. E o pedido foi feito pra essas terras de ninguém, que se saiba, que se salva. Há crenças e cantigas e orações que amenizam o rosto pesado de mil rugas que se alastram da testa ao tornozelo, das voltas e curvas das rugas da face das velhas e velhos, não tão velhos, mas já gastos, suados, usurpados, queimados pelo sol. Arranca couro. Fede. A flor de mandacaru que nasceu na terra crua anuncia o sinal de chuva que São Pedro irá jogar! O jogo de amarelinha que as crianças na rua pulam não sabem o motivo e o céu que ainda irão chegar.

2 Comentários:

Blogger Carol disse...

Minha vó teve uma participação especial.
=)

5 de maio de 2011 às 15:58  
Blogger Natasha Pinto disse...

"E as mulheres não prestam. Não prestam o papel de ser o que não são."

Sensacional!

2 de junho de 2011 às 19:14  

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