terça-feira, 26 de maio de 2009

Num guardanapo sujo

Notas escritas num guardanapo:
Não fui o único a te usar hoje. Noto que há uma marca de batom. Não ligo, pois sei que foi esta loira ao meu lado quem usou. Será que está acompanhada?
Recordo-me dela pegando-o com o canapé de salmão. Também tentei pegar, mas o garçom me fugiu. Porém logo depois vinha outro. Não me importei em agir indelicadamente: Peguei seis salgadinhos de uma só vez. O elegante garçom me olhou com um sutil ar de desdém, parecia que era o dono da festa e dos salgadinhos. Foda-se.
Coquetel de frutas: seis. Chope: dez. Mulher bonita: um monte, mas minha mulher é a madrinha, tenho que me comportar, embora ela não o faça. Ela me acena de longe, felizinha, dançando com a noiva.
Pra mim o Amor acabou aqui. Exagero? Eu sei. Renata pra mim é uma princesa que foi levada a força por soldados do imperador. Arrancada de meu braços há doze anos. Na época eramos todos amigos: Eu, ela, minha mulher, menos o sortudo com quem hoje se casa. Só pode ser o dinheiro... O cara é feio, gordo e careca. Não é possível! Nosso caso não durou, fui morar no exterior, mas prometi voltar e buscá-la logo depois. Voltei , mas já era tarde. Estava namorando o filho do milionário. Puta festa! Já toquei no assunto de grana várias vezes, mas como artista, teria que esperar a fortuna chegar. Ela fica puta quando falo disso. Hoje, desabafo bebado no guardanapo sujo, e me contento com um amor temporário até me reapaixonar. - Garçom, tem cachaça?

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Bzzz!

-Bzzz! Bzzz! Bzzz!

Parece que tem foco de mosquito aqui em casa, ou nas redondezas. Primeiro andar,né. Eles sempre voam por aqui, devem ter preguiça de voar mais alto...Outro dia estava na varanda do apartamento de uma amiga que se localiza no décimo segundo andar de um edifício com quinze, e notei que ao observar o mar lá perto do horizonte, um mosquitinho esbaforido apareceu voando bem na minha frente. Me preparei pra matá-lo, mas percebi que o pernilongo estava mal, e assim que teve a oportunidade, se apoiou no parapeito da varanda, como se dissesse:

-Ai, meu Deus...Consegui...

Pensei em exterminá-lo mesmo assim, pois o bicho poderia ser um risco para a sociedade. Estavamos todos traumatizados pela dengue. Então, antes de esmagá-lo, lembrei que o tal Aedes Aegypti teria as pernas como as de uma zebra: preto e branco. Cheguei perto para analizar o detalhe e critério para a sua execução, mas ele não tinha as pernas listradas. Redenção. O bicho estava com cara de cansado, porém havia algo que me chamou a atenção e causou certo espanto: Ele tinha uma espécie de mochila nas costas, como se carregasse uma turbina ou algo do tipo. Fui correndo chamar minha amiga, que, por acaso era bióloga, para ver tal esquisitice. Na volta, o bicho não estava lá. Tocou uma música de suspense na minha cabeça, e não demorei muito por lá depois disso.

Paranóico como estou, em casa, antes de dormir, enfio na tomada dois repelente daqueles elétricos, acendo um incenso de citronela, e antes de passar a loção repelente, fico de pé, estático, para atraí-los à minha perna, como uma armadilha. Espero dois, três minutos pra ver se algum aparece. Todo ano tem surto de dengue aqui, já peguei dengue uma vez, e estou surtando. Meu irmão que tem sorte. Essa semana foi diagnosticado com a Síndrome das pernas inquietas.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Sobre a falta de pauta

Hoje me peguei com uma puta vontade de escrever. Algo que não tenho tido há um certo tempo. Na verdade até tenho, mas o problema é a falta. A falta de tempo, a falta de inspiração, palavras, temas, e até dinheiro. Mas creio que isso não seja um problema de verdade, pois se formos pensar assim só escreveremos quando realmente tivermos o que escrever, o que não é o caso. Mas o que vem ao caso quando pensamos nesse problema são os escritores que têm contrato com editoras. - Paulo Coelho, precisamos desse livro para o final de Janeiro no máximo! - Tá bom! Maktub! Não foi um bom exemplo, mas tá registrado. - Veríssimo, chega de orgias e banquetes e vá escrever! Direito, porra! Tudo bem que eles já têm um certo conceito no mercado e provavelmente sequer tenham prazos. Mas será que eles hesitam em escrever em momentos não inspirados? Hoje, por exemplo, segurei esta ânsia de escrever desde duas horas da tarde, quando estava caminhando em direção ao metrô e reparei que as pessoas estavam com pressa, se esbarravam umas nas outras, o guardador de carros gritava, e saiu correndo atrás de um carro que partia sem deixar seu trocado. Cenas corriqueiras desta metrópole calorenta, calorosa e criminosa, porém inspiradora e com vistas lindas. Voltando à caminhada, reparei que entre essas cenas caóticas havia um rapaz, por volta dos seus trinta e cinco anos, tocando violão na praça. Era um violão ligado à uma caixa de som, ligada à uma tomada da cabine de polícia. A música era Stairway to Heaven, do Led Zepellin, em versão bossa novística. Achei aquilo o máximo e me fez esquecer daquela sensação de escrever relatando o caos, e pensar na paz emanada aos humanos industrializados. Mas desafortunadamente quando desço a escada, já harmonizado, me deparo com uma fila gigantesca pra comprar o bilhete, e imediatamente, o caos. Chegaria atrasado à mais um compromisso, e a vontade de escrever aumenta. Diante a falta de assunto, ou pauta, esta foi uma das opções apresentadas no dia de hoje, sem contar as matérias do jornal, a gripe suína, o mendigo dormindo na esquina, o mengão campeão, a discussão com minha mãe, os problemas de saúde do meu cão, e muito mais. Mas como eu não tenho prazos, apenas sento, abro o bloco de notas, penso em alguma coisa, ou nada.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Um Palhaço

Vocês já foram ao circo?
Eu sou um palhaço sem graça que ouve gargalhadas espontâneas somente quando acontece algo trágico, comigo. E as cortinas se fecham para mais um espetáculo eloquente que se aguarda com filas e filas do lado de dentro da calçada. Faço palhaçada de graça para a criançada que me aguarda lá em casa com cara de fome. Trago sacolas cheias de ar e solas de sapato gastas. Um minuto para o salto! Ouvir o grito do ponto mais alto do dia em que o ser humano resolve cometer um assalto. Só não leve meu coração.

domingo, 3 de maio de 2009

Puro

Olho firme
nos olhos
quando falo
aos seus

não tremas
linda moça
apenas sou
o que vês

estou e sinto
somente isso
verdade é dita
como um comício

ode ao amor
à palavra
pureza
seios

aceita meu pedido
como um peixe no rio
nadar livre
e alimentar-se
das algas límpidas
do rio claro

abstrato existe
concretize
believe
it

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Criança é Feliz

Criancinha sabe o que quer,
Mas não sabe dizer.
Ela só sabe ser o que é.
O seu astral é claro,
O ar é puro,
e tudo está bom quando quer.
Traz alegria pra casa.
Traz tudo que quer do mercado.
Canta a música alegre que tá na cabeça o dia inteiro.
Criança não pensa em dinheiro.
Vai ao banheiro e não se preocupa:
“ Mãe, vem limpar minha bunda ! ”

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