quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Vou ao banheiro rapidinho

Vou ao banheiro não sei por que. Olho no espelho e vejo eu. Me identifico logo comigo,
e por isso me torno meu amigo. Algumas partes do meu corpo eu não olho todo dia. Pelo menos não da mesma perspectiva. Essa calça tá estranha, meu amigo. Esse machucado no braço poderia ser tapado com um band-aid ou alguma coisa parecida. Essa casquinha dá vontade de arrancar. Cuidado, tem gente que faz isso! Vamos arrancar esse pelo do nariz, cara. Só por que é homem, tá com medo de fazer isso? Vai fazer xixi, cara. É por isso que veio aqui. Minha barriga está meio grande e eu realmente lembrei de fazer xixi quando a olhei. Apoio minhas mãos na pia e lembro que é sujo e abro a torneira, e molho as mãos e passo as no rosto e na cabeça. Pra acordar. Água é muito importante, né...Ela me renova, e suas particulas molhadas quando entram pelos poros me fazem bem.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Vinho tinto na segunda

Um vinho na segunda pra quebrar a rotina sanguínea. Abri uma garrafa de vinho que sobrou da última festa na Zona Sul. -De Paris, São Paulo? Não. Do Rio. -Mulheres gostosas e carnaval?! Isso. Também há velhinhos nas praças, bandidos, rios fedidos, praias maravilhosas, e mal atendimento nos restaurantes e pizzarias rodízio. Mas não se intimide. Não tenho bebido. Dia de semana é difícil beber(muito). A não ser que esteja festejando alguma coisa. Uma foto que tirei, ou um alto-falante que comprei. É preciso ter força e firmeza pra abrir o vinho. Cortar a capa lá de cima com um saca-rolha, como uma cirurgia de fimose... Ah, que dor! Aprendi nesse domingo. Festejar o vinho! Jim Morrison e Dionísio! Almodóvar e Ronaldinho! -O Gaúcho? Não. O Carioca, barrigudinho... Let the rabbit come out of the cave! Nossa, tá batendo o efeito. Vou beber mais um pouquinho, dar mais um doizinho. O tabaco já tá enrolado para nosso malefeito. Amanhã comer banana, maçã... Beber muita água. O suficiente pra compensar as toxinas ingeridas pelo tato e paladar, e todos os sentidos de ontem à noite às cinco da madruga. Da matina! Quanta rima! Vai rio, ri, flui, deixa ser! Eu sejo, tu sejas, nós sejamos, vós sejais, por tantos carnavais! Rimas como essas tem em montes iguais. Quanto ao balanço do mar, e o do seu coração, permito-me lhe cantar esta canção(cantarola). Que rima de garotinho de convento! Menina virgem! Professora de Religião feia. Baby da Família Dinossauro, e gatinho do Shrek... Quero falar de coisas bonitinhas. Cuti-cuti. Assim eu perco a moral... Invento história. Caralho! Porra! Puta que pariu! Merda! Foi mal. Olha aqui, não quero mandar uma moratória contraditória de palavrões e xingatórias, e muito menos política moralista contra ou à favor do aborto, ou das dietas bulímicas, ou dos dentes tortos da Dilma. Cerra! É apenas poesia! Como jogar uma bola, marcar um gol de placa, ser ovacionado pela platéia do Municipal, contar tudo para a família, e saborear as delícias da vovó, como este vinho, tinto, suave, que está sobre a mesa e dentro da minha boca seca. Para a sobremesa há uvas na boquinha, massagem nos pés e minha cama quentinha. Parabéns pra todos vocês! Pois se ficaram até aqui, é por que realmente gostaram de mim. E, com certeza, vão voltar mais uma vez para prestigiar essas coisinhas lindas, macias e sedosas, ditas aqui. Utilidade pública.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

De forma que me ache

Procuro por alguma coisa que me faça brilhar os olhos, coçar a cabeça, gestuar com as mãos, ou não ter onde colocá-las. Andar pra lá e pra cá, rodar, pensar e pensar, andar mais um pouco sem ter onde ir até encontrar aquele lugar que procuro. Um beijo no escuro, no claro também. Alguma coisa entre meus horários e brechas do dia. Uma natureza ainda à luz do dia. Procuro por tudo que ainda não achei, novidades, pausas, olhares incompletos, frases tentadas, porém não completadas. Falar mais alto da próxima vez, pois se não compreendido, não terá outra vez. Meu amigo, olha aqui! Procuro sim onde ir, procuro então suas mãos, o apego, o afeto, o chamego, o desafeto pós término, o afastamento de Brecht, suas mãos em minhas pernas, procuro o cheque devolvido. Sem fundo. Olho no olho, e no fundo no fundo não me vejo. Procuro tudo. Algo que me enlouqueça, que perca a cabeça, que funde meu cheiro no seu travesseiro, procuro um amigo, uma igreja, pra ir rezar a missa de meio-dia, das seis, do padre torto, às quartas-feiras depois de um dia, um dia tranquilo com várias leituras e várias cervejas em baixo da mesa pra não contar as que sumiram no bar, de esquina, se ligua na minha, já é quinta e amanhã é sexta e depois o finde, fim de semana, que pode ser que eu ache a minha sunga pra ir pra praia, e quem sabe, alguma sereia me cante e me leve pra trás das pedras do arpoador, sem nem um, nem dois, nem um, pudor, ou até mesmo ali na Praia do Diabo, em pleno sábado, já de madrugada, quem sabe eu acho um poema jogado, esquecido, triturado, abandonado, não decorado no fundo da minha cabeça. Procuro a chave de casa, o livro no sebo, um quarto nos classificados. Eu procuro algo improvisado, que possa ser falado, sentido, ouvido, cantado, emprestado de forma que me ache.

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