quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Adeus, velhinho

Ai ai, velhinho, você já tá tão cansado, tadinho... Tanta coisa passou, e você não fez nada...Apenas passou. Meio inexpressivo, sem muitas novidades, porém, vivemos contigo e você conosco. Que calor...não deu trégua, hein. Sempre causando estrago, mas dizem que somos culpados.Tô falando de tempo...Passou rápido nos primeiros mêses, depois arrastou-se pelas calçadas borbulhantes da cidade, que está cansada de esperar seu companheiro chegar.

Não, não vou parar de reclamar, tenho direito! E pelo que estou vendo, muita gente reclama de tu. Vou defendê-lo , sei que não tem culpa de ser o que é, e ter feito o que fez. Sei que nos seus pés estamos nós, que o escalamos até a cabeça, arranhamos suas costas, agarramos seus pelos até que enlouqueça, para que traga-nos o que queremos: Felicidade, saúde e beleza.
Obrigado e Adeus.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Batom vermelho

Estava na noite quando notei que estavam me olhando. Eu estava sozinho, sem amigos comigo. Talvez estivessem no banheiro ou ido embora. O bar estava cheio quando começou a esvaziar, muita gente procurando lugar. O som era jazz...pesado. Era John Coltrane soprando sua alma pelo bar por volta das 3 da manhã daquela noite suada. Amanhã não acordo cedo. E não vou fazer nada, talvez uma praia.
Notei que me olhavam da mesa ao lado.
Um casal simpático, meia idade. Um careca e uma morena de batom vermelho usando mini-saia e botas prateadas.
O careca safado não parava de me olhar, enquanto eu devorava a morena ao lado. O cara só pode ser viado.
- Garçom, tem tequila? Com limão, por favor.
Perguntei “Pode fumar?” já acendendo um cigarro.
Me levantei, peguei o saleiro da mesa ao lado e fui ao banheiro. Tinha um orelhão do lado do banheiro. Tinha que ligar. Senti que naquele bar eu poderia voar, esticar minhas asas, sabia que era um lugar familiar.
A morena foi ao banheiro. Enquanto eu estava ligando para casa pra saber se meu tio estava bem.Ele estava se recuperando de um câncer, bebeu demais e fumou demais, fora os dias em que não fez nada disso mas também não fez nada, ou era isso, ou nada. Ficava de jejum se não houvesse uma cerveja para matar a sede. A morena passou por mim balançando o rabo, e esbarrou, não pediu desculpa mas quando chegou a porta do banheiro feminino ela virou para trás e deu um sorriso com cara de safada. Tinha recebido a noticia da morte do meu tio, estava dividido entre a dor da perda e o sorriso da morena que dizia: - Vem me comer seu safadinho, eu sei que o que você quer eu também quero. Trepar! Com certeza era isso que ela dizia com os olhos. Tentei esquecer o que tinha ocorrido com meu tio querido, e fui fazer o que ele faria, entrei no banheiro feminino. Um cheiro agradável, no masculino não e assim, cheiro de perfume, talvez. Ouvi gemidos vindo do fundo do banheiro, segui meu extinto canibal, atrás daquela presa fácil ,com carne abundante principalmente no lombo, tinha uma bunda arrebatadora. Abri a porta e La estava ela sentada no vaso sanitário com as pernas abertas, a calcinha e a saia arriadas na perna,ela estava se masturbando esperando por mim, falando assim parece sacanagem, mas é verdade, não e conto de fadas nem erótico.
Ela olhou e disse: - que demora, mas você realmente tem faro.
Eu olhei profundamente nos olhos dela e disse uma palavra, somente uma: - cachorra. Parti pra cima, procurei a camisinha no meu bolso, não consegui pegar, o tesão era tanto que não deu tempo, fui com tudo pra dentro, ela gritou.
Gritou alto, mas parece que ninguém percebeu. Eu tapei sua boca com força, ela abocanhou meus dedos e chupou, com muito prazer. Continuamos por mais alguns minutos, tinha me esquecido do tempo, parecia um século.Nós dois sem dar uma palavra, só se ouvia nossos corpos transpirando.quando fomos interrompidos por um barulho alto, parecia de tiro. Ficamos aflitos, ela olhou pra minha cara e disse: -é isso. Eu confuso, coloquei minha calça de volta, e ela se recompôs. Levantou, olhou no espelho, abriu a bolsa, pegou um batom, como se tivesse concluído algo. Saiu cantarolando do banheiro. Eu apenas olhando sem saber o que fazer. Ingênuo, fui atrás dela, ela nem sequer olhou pra trás, e saiu do bar correndo, rebolando e ajeitando a saia. Notei que o coroa safado não tava na mesa. Eu hesitei e tentei alcançá-la, ela entrou no taxi e foi. Ainda atordoado com a cena da gostosa indo embora, percebi que havia uma correria perto do banheiro, o ajudante de garçom discretamente falava com um Coreano ou Japonês,que por trás do balcão apenas sinalizou, balançou a cabeça, não era um simples sim ou não, algo que não deu pra identificar,mas eles estavam tensos.O povo estava distraído, e uns bêbados dançavam energéticos e eufóricos na pista. Eu já tinha esquecido do fato(do barulho), apenas achei estranho e não quis me meter.Me direcionei ao Jukebox ao lado do bar, botei um Chet Baker, “ I fall in love too easily”, que soôu alto e apropriado naquele momento.Eu tava mal, Acendi um cigarro, pedi uma dose de vodka, apoiei com os cotovelos no balcão abaixei a cabeça e viajei com o som... Senti um calor na perna, achei que estava no sonho, demorei um pouco pra perceber que aquilo era no plano físico. Uma voz doce e firme cochichou no meu ouvido :-ei, vamos embora daqui., ela foi me puxando e nem deu tempo de ver seu rosto,estava tonto. Eu a acompanhei, claro. Realmente devia estar sonhando. Fomos embora.A rua estava molhada e chuvosa...Taxis esperavam do lado de fora, entramos em um, tentei me comunicar e ela calou minha boca com um beijo. Tudo ficou mudo. Olhei pra trás e vi sirenes e carros de polícia parando no bar. Ela me agarrou , beijou, interrompeu e falou pro motorista: -Take us to wonderland!

Escrevo sem pensar

imperturbávelmente
hoje aqui escrevo sem pensar
palavras dizem o que sinto agora
sinto agora palavras saindo de mim
de mim saem palavras bem ditas
frases sem nexo e mal feitas
que sejam aceitas
por mim

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Feliz natal, abobrinha...

O natal foi bom, a mesa ficou vazia após ter sido cheia. Às três horas da manhã percebo a mesa cheia de copos usados, farofa pra todos os lados, pratos de sobremesa sujos com pedaços de bolo de chocolate, que não combina muito com natal, mas tudo bem. Tinha também rabanadas, talheres de prata, pratos sofisticados, que minha mãe tirou do armário pra festejar a data festiva.
Muitas coisas não foram percebidas na mesa, mas eu notei que as formigas faziam uma fila atrás do pote de açúcar que estava dentro da bandeja de café, com xícaras chiques. Quando deu onze e quarenta e cinco, minha irmã estava eufórica, toda hora que passava pela árvore de natal, ela dava uma espiadinha pra ver se tinha algum presente novo. Todos já estavam ceiando, com uma baita fome, inclusive o cachorro que veio a atacar o tender depois de meia-noite, quando ainda estavamos comendo. Aquilo foi natural. Festejamos o Natal ali mesmo, com o prato de comida na mão. Depois, claro, nos abraçamos em alguns momentos da festa natalina, abrimos os presentes, veio a sobremesa, e logo depois, a cerveja. Pois estava bebendo Coca com comida. Não gosto de álcool com comida, mas as vezes rola. Agradeço a fartura que tivemos nesse natal e em toda vida. Que os povos em fome se alimentem, que nasçam frutos do solo, que a chuva fértil caia sobre nossas terras. A densidade desse depoimento escrito em guardanapo ensopado de vinho que está jorrado sobre a mesa é forte e como o ar natalino, direto do fundo do meu coração, e de todos que estão ao redor do centro do universo: nós. Feliz natal, abobrinha, batata, melancia, morango, aipim e inhame. Um minuto de silêncio para o pernil, o bacalhau, o tender, e a fome calou a minha boca, cheia de farofa.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Crio frases

Crio frases para livrar-me.
Coisas saem absurdamente
Sem me perguntar.
Se me preocupar vai ser estranho.
A mim e a todos.
Pouco importa o que pensas,
Quem vai querer saber o que penso?
Sai pra lá com seu chulé, mulé!
Falando em português exato,
Dou-me um trato,
Sem perceber o impacto que causam
Essas coisas chatas que estou dizendo.
Para, vai...
Isso é tudo que podes dizer?
Conte uma novidade,
Uma arte,
um ato de coragem visto hoje às seis.
As ruas andam onde eu já fiquei.
Chega!
Que barulho é esse?

Como havia lhe dito

Já estou ferido, cansado, sentado aqui neste chão duro , esperando por viver bem. Esperando o que eu não sei se tem rumo. Minha bunda está quadrada, como minhas expectativas não arredondadas a respeito da espera do inesperado, generalizando tudo. A formiga me picou, como se fosse um beliscão do ser supremo desconhecido. Para que eu me levante e siga em frente.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O cachorro

O cachorro olha para a geladeira com uma cara de puto.
Deve estar imaginando tudo que tem lá dentro. Como se estivéssemos escondendo algum segredo, um monte de comida dourada e colorida. Legumes coloridos, vermelho, amarelo, preto. Berinjela é preto, né?
Deve pensar nos quilos de carne de boi e de frango. E de peixe. Quilos e quilos de comida fresca.
Ele tá sempre ali esperando a gente fazer o prato de comida. Dormindo no cantinho, ele sente o movimento repetitivo que fazemos todos os dias, mais ou menos na mesma hora. O movimento é sempre o mesmo. Estamos com fome, levantamos e vamos em direção à cozinha com uma dor no estômago e pedindo água, ou Coca, de preferência. Ele se levanta lentamente atrás da gente. Ele vem correndo sem se preocupar com o barulho que faz quando corre pela casa a uns 20 Kilômetros por hora. Como se não fossemos notar o canino faminto. Ele chega na cozinha e espera a gente fazer o prato de comida que minha mãe fez. Eu levo o prato para a sala e sento no sofá. Com uma almofada embaixo do prato, eu como com uma fome de monstro. O cão se aproxima e senta na poltrona ao lado e me assiste comer. Como se eu não o percebesse. Quando termino meu prato colorido, pois tem que ser saudável, quanto mais colorido, mais saudável. Quando como pratos coloridos, me sinto mais saudável, não fico com gazes. Ele finge estar dormindo e assiste o meu retorno à cozinha. Com restos de comida praticamente intactos dentro do círculo de louça italiana, ou seria brasileira? Não sei. Era branco com círculos prateados circulando o prato por dentro, mas quase na borda. O cachorro é um voyeur que me persegue, atrás de pedaços de carne que habitam o interior do meu prato. Enquanto olha para a pia, eu o percebo e deixo pedaços na ponta, para que fique de fácil alcance. Ele olha pra geladeira como se fosse um baú com comida dourada, e fica puto, pois não consegue abri-la. Já houve ataques clandestinos à geladeira.

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