quinta-feira, 2 de julho de 2009

Seu Aluno Dedicado

Eu sabia que você tinha descoberto que eu colei. Mas ainda bem que você não chamou a minha atenção na aula. Eu teria ficado com vergonha. Eu percebi o seu olhar, seu vestido vermelho e colar. Estive bem atento às aulas nesses últimos meses, e metido a cara nos seus peitos, quer dizer, estudos. Desculpe. Foi um ato descontrolado, professora. Eu não quis dizer que eu tenho estudado esse tempo todo e me dedicado assim, como eu tenho feito, só por causa da senhora, vai...Eu gosto das matérias dadas. E inclusive meus pais querem ver resultado. Chego a ter questionário em casa. Quiz Night. Uma espécie de joguinho que meu avô costumava fazer na hora do jantar, e agora, meu pai continua com o intelectualizado ritual de família de índio. Será que vai sobrar pra mim ou para um de meus irmãos o hábito de fazer isso? Eu te pergunto, professora: É normal isso? É normal? É hábito? Isso se chama cultura? Qual seria a matéria que lidaria com esse tipo de tema? Família é família. Talvez estudos sociais? Um passeio no Parque Lage é programa de índio? Mais uma vez fugi do assunto, querida educadora. Acho que estou tentando despistar um pouco a questão principal desta carta. Admito que se estivesse no lugar do professor, entenderia que o pobre aluno antes de levar a sua cola para a escola, teve que estudar, fazer uma densa pesquisa e escrever um mini relatório, que pudesse ser inserido dentro de uma caneta esferográfica ou que pudesse ser escrito rapidamente na carteira da sala, num pedaço de papel minúsculo, na palma da mão, ou simplesmente esticando o olho a prova do aluno mais inteligente e próximo dele. Confesso que sempre preferi colar das meninas da sala. Os garotos são burros, e todos só querem colar também. As meninas além de dedicadas, sempre foram carinhosas e gostam de me tocar, fazer carinho na cabeça, e encostar as coxas por baixo da mesa. Romances rolavam, e até planos para matar aula na cachoeira. O próprio poeta, que se diz poeta, diz que a senhora tem que encarar isso como minha prova de português. É pura literatura que nasce na mesa de casa, jantando com livros em volta dos pratos e recitanto poemas e peças de Nelson Rodrigues na casa da minha tia enquanto esfria o prato. Não tenho corretivo nem borracha, e o texto foi todo escrito a caneta, e não a lápis. Obrigado.

Seu Aluno dedicado

2 Comentários:

Blogger Juliana Marins disse...

Curiosa a vida, não?

3 de julho de 2009 às 22:16  
Blogger Rafael disse...

Respeito quem sabe colar
E uma colada bem dada
Eu até deixo passar

18 de julho de 2009 às 01:08  

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