Mais um olhada. Só mais uma não mata...Uma olhadela daquelas que não tiram pedaço, vai... Isso não vai dar em nada... Olha a vizinha ficar pelada. Os peitões que todos os dias às sete e trinta, mais ou menos, se despem em frente ao espelho da porta do seu armário feio. É exatamente a hora em que minha namorada liga porque chegou cansada da aula de yoga que tem feito desde a semana passada. Ou seria Inglês? Ah...Não vou atender agora, para não perder o espetáculo. Ai, que mulher tarada...Por mais que não queira, deve saber que é observada pela vizinhança inteira. Vejo nos olhos dela quando passo todos os dias pela janela da escada e a vejo enrolada na toalha. O Zé que falou pro Caio que ela tinha hora e momento exato pra tirar de dentro da bolsa uma navalha que compra pontualmente às quintas-feiras na farmácia, após voltar do trabalho. Raspa a buceta de perna aberta na varanda de sua casa, se preparando para o fim de semana e as festas que rolam à noite nas gafieiras do Centro, nos sambas de quadra, ou no Baixo Gávea, onde a safada, desde a briga com o ex-marido, que um dia trouxe flores e chocolate de baixa qualidade,
procura meninos e meninas por volta dos trinta para dar um trato. Paulinho, o filho-de-bicheiro-ex-peguete-canalha da filha da tarada, beberrão de primeira e comprador de camisas e sapatos usados e perfumes com cheiro de álcool, informou aos rapazes, que o motivo da separação foi a ilusão.”Explica isso direito.” – disse Sérgio, nosso amigo e ex- nerd, hoje funcionário público que trabalha de 7 às 7, naquele prédio(...) Aquele onde era a antiga Telerj, sabe?
-Ele ainda é nerd. Paulinho, o sujeito malandro, disse que aquela loirinha, filha da vizinha ao lado, que quando criança jogava queimado e deixava escapar os seios ao lançar a bola, para atiçar a criançada, e claro, alguns marmanjos que desciam só para brincar na rua, onde a menina estava. Me refiro à filha da “safada”, que após a separação, coitada, foi morar em São Petersburgo com a tia, e estuda teatro numa escola à beira do Rio Neva, e aos sábados pode banhar-se nas praias do Mar Báltico, e parece que anda fazendo papéis principais em uma espécie de pornochanchada russo e ainda vem todo ano ver sua família desnaturada. Pena que está usando drogas e só quer saber de atores Globais ou homens muito bem pagos. Vejo pelas máquinas estacionadas em sua garagem durante suas férias, que é no mês de março. Seu pai, o homem de quem havíamos falado, na época, era professor de matemática e sempre bom marido, havia sido efetivado para dar aulas no Fundão. Muito longe de casa, chegava tarde e cansado do trabalho, onde junto com ele, mulheres de meia-idade trabalhavam. Sua mulher, a tarada, começou a desconfiar da pedagoga coordenadora, que, do nada, um dia às 4 da madrugada, liga e pergunta onde ele estava. Pouco sabia que a pedagoga feiosa e mal amada, com cabelos desgrenhados, era feia e mal amada, e ainda fazia sessões diárias de psicólogo e se tratava com um renomado psiquiatra. Depois daquela situação inusitada, mal-entendido, e daquela caixa de chocolates vagabundos e flores amassadas, ela ficou completamente mudada. A ilusão tomou conta. Ficou louca. Geminiana, imaginou coisas, pegou em facas e queria descontar da forma mais apropriada: Um dia fez uma reforma em casa e deu pra todos os pedreiros e operários até o marido chegar, cansado, de um longo dia de trabalho na afastada universidade. Do prédio onde moro dá pra ver sua fachada, janelas laterais dos quartos de dormir e área de serviço. Vejo as brigas, conversas amorais, buceta raspada, portas cerradas com muito vigor, mas que com muito amor, inspiram este garoto que, aos dezoito anos, espera ficar mais velho pra tirar, não só com os olhos, as roupas da vizinha e da dor.