sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Uma quarta de cinzas

A água invadiu a sala. O mar invadiu a areia. As ondas gigantes que batem na beira causam estrondo como berros de uma sereia. Cheio de troço na areia. Côcos, garrafas, copos, prancha quebrada, saco de batata, sujeira, muita sujeira. Até o cachorro que passa não percebe a lua cheia. Cheira. Procuro a lua nesta tarde cinza de quarta-feira de cinzas onde o sol não brilha e saiu pela porta de trás e não se pôs na frente, ao mar, como sempre faz. Fim de carnaval, não estou tão mal, não que não tenha bebido tanto e passado mal, mas fiz bastante xixi, inclusive no banheiro público que botaram bem ali, no meio da praça. Bom menino este que vem e que passa e se segura pra não sujar a rua. Friozinho na praia, névoa rasteira que sobrevoa toda a raça e essas coisas à toa que me perturbam e tiram a graça. Amanhã tá tudo bem. Hoje, porém, não posso dizer que não esteja também.

De carne e ouro

Ah, se eu fosse de ouro! Me prenderia nos teus braços, dava um laço, muito caro, de amor, afeto, carinho, e tudo que é claro. Meu brilho encantaria tua alma e faria que todos, todos os olhos vissem o valor que é ser de ouro e forte como um touro, assim de carne e osso, preso no teu pulso, invadindo a tua casa, que é teu corpo, e alma. Calma, muita calma é preciso. Ter de perto o perigo relutante em ser jóia, rara. Por mim, até de prata. Sem ferrugem, sem desgaste, nem a bijuteria mais barata, da fonte que secasse, da morte da barata, do briho em teus olhos, da panela de inox, das taças de cristal que ecoa esse som que na coluna dói o sistema nervoso, estou nervoso, nervos de aço, dor no pescoço que vai da cabeça, toca o osso e passa com espasmos musculares, forçam a arcada dentária e, com esforço divino, me sento e sinto uma dor lombar e a coluna dorsal. Sou de carne, como e sangro, num ano, tanto como qualquer outro animal.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Lavei meu rosto com vodka

Cheguei e ninguém me viu. Olhei pros lados e ninguém olhou pra mim. Pensei que estava abafando, mas não, ninguém. Então resolvi chocar. Tirei a roupa e comecei a balançar( meu pau, em movimentos circulares para ver se alguém olhava). As mulheres olharam timidas e debruçaram nos ombros dos seus namorados. Eles fingiram que não viram. Covardes. Tinham medo de mim, talvez pela cicatriz no rosto e uma longa de cinquenta centimetros no peito. Acharam que eu era louco, que não tinha família ou amigos. Era apenas um pênis rodando em circulos. Ouvi um burburinho lá do fundo, uns caras mal encarados vieram em minha direção. Pararam no meio do caminho, quando parei de rodar meu pau e o guardei de volta na minha samba-canção. Pouco tempo depois, ainda de cueca, comecei a dançar naquela festa a fantasia fantasiosa, estava muito doido e nada importava, estava pouco me fudendo para o que os outros pensavam.-Meu amigo, me vê uma caipirinha, por favor. Com vodka Natasha! Uma loira se aproximou e começou a dançar sexy na minha frente, tocava um tecno envolvente e eu me envolvi. Já estava de roupa novamente e percebi que no fundo não havia chocado, apenas aproximado as mulheres de mim. Logo havia uma rodinha de garotas gostosas a minha volta. - Será que são putas? - Pensei.
Acho que não, era uma festa alternativa que continha pessoas de todos os tipos e estilos. Elas chegaram e começaram a se roçar em mim, dançando um booty-dance, aquelas danças que as mulheres dançam roçando a bunda no seu pau, como nos Estados Unidos, ou como nos bailes funk cariocas. Pois é, faziam uma fila pra dançar comigo, tanto que no final, meu pau já estava dolorido. Augúrio for ver a caixa do meu banco dançando no queijo, quase sem roupa e bêbada como um gambá texano. A festa estava boa, eu já tinha feito a cena, e até os caras mal encarados já estavam sorridentes e dançando sem camisa. O povo já tinha tirado a roupa e, pela pista de dança, que encharcada de espuma, perdia as peças de vestuário, cuecas e calcinhas sujas. No dia seguinte não me lembrei de muita coisa. Tanto que acordei agora, às treze horas, sem memória, e sem documentos. Acho que no copo tinha muito mais coisa. Talvez um Boa noite cinderela, ou outras drogas psicotrópicas. Fui arrastado para todos os cantos daquela boate com cara de Strip-clup de Copacabana. A festa era uma comemoração de um amigo escritor gay. Eu havia prometido que não ia, pois não gosto desse tipo de festa, aquelas que todos ficam loucos e perdidos, e ninguém sabe mais o que é de quem. -Onde estamos? -Perguntei à ela. Ela disse para eu relaxar, que logo estaria no paraíso. Eu fiquei preocupado, mas como havia dito, já não lembrava o que era de quem, e onde estávamos. Um quartinho escuro com luzes neon e black lights, daquelas que deixam os dentes e olhos fluorescentes quando apagamos as luzes, tinha garrafa pra todos os lados, uma mesinha de centro e um sofá enorme no canto, para onde fomos.
Pelo menos umas cinco ou seis pessoas se escoravam na mesinha de centro, onde havia todos os tipos de drogas, e pelo menos um tijolo de cocaína, o suficiente para deixar qualquer um louco e tarado por horas. Não me importava, no dia seguinte não faria nada. Ela me levou a loucura, tirou minha camisa e desabotoou todos os botões existentes em mim e nela. Parecia que estava se amostrando para os zumbis que estavam na sala, quarto, ou sei lá o que. -Foda-se. -Pensei. Olhei um pouco preocupado para a cara deles, mas não consegui identificar algum tipo de expressão humana, aliás , todos os rostos estavam desfigurados, e minha mão derretia em seu corpo lânguido e sensual. Perguntei seu nome inumeras vezes e ela apenas sorria, sempre. Como se fugisse, desconversasse a idéia de alguém ter nome. Naquele lugar, naquele momento, naquele escuro hipnotizante não precisávamos de nomes. Eu então a chamei de Natasha. Talvez pela quantidade excessiva de garrafas de vodka Natasha que havia no meu campo de visão, que não era vasto. Acordei com a cara toda branca embaixo da mesinha de centro com cocaína. Olhei para cima e vi narizes, pessoas e tubinhos para inalar o pó branco que alucina. Demorei um tempo para perceber que aquilo não era sonho, tentei acordar, mas algo me prendia ali na minha mente. Depois de fazer uma força sublime e extraordinária, consegui me desprender do pseudo-sonho-teto-preto-overdose-sexual que havia me metido, levantando a cabeça com toda força e quebrando a mesinha de vidro. O sangue escorreu pela minha testa, as pessoas-zumbis olharam pra mim e já vinham me escorraçar com todas as forças quando me levantei de forma sobre-humana e olhei nos olhos deles. Eles se curvaram e voltaram a farejar, como cachorros acoados, o pó que havia caido no chão, e pela minha testa o sangue escorria até a boca com gosto de ferro. Procurei por Natasha, encontrei a garrafa. Entornei em minhas mãos, fiz um gargarejo e lavei meu rosto com vodka. Procurei a saída enquanto os tamanduás cheiravam o chão e estavam distraídos.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A tech-mental letter

For a sentimental reason i am sitting here on the chair. I could think of many ways of expressing my feelings, but the least abstract would be this one here. I see a pen, a pencil, and many other writing utensils, but the only one i want to use at this moment is this, the keyboard. For many other reasons i`d rather make use of this keyboard instead of using a regular, ordinary notebook. Well, i am using one notebook, but a more modern one, the one called laptop computer. Yes, for me it sounds a little too cold and modern for a passionate man to write a love letter, or maybe a suicidal person to write a suicide note. But well, we are getting modern, we are getting electric, we are getting there, we are already in 2010, and if i can remember, this year was supposed to be a lot more modern than it already is. We were supposed to have flying things, cars, and telephone booths on the streets, crazy wild people destroying things like there is no love. Fucking shit, where is all modernity? Where is the little robot-maid cleaning my house? I want one. Shit. Okay, honestly, i want more green. But in fact, a little technology makes no harm for me. When are we gonna make it to Blade Runner, The Jetsons, Mad max and all that psico-techno shit?
Okay. Here i am again talking about my own bullshit, maybe it`s yours too. Can you picture a man writing literature over a computer? Which one sounds more straight? A typewriter or a PC? How can i mention fucking Youtube, Orkut or Facebook in literature? Maybe Marcel Duchamp would, he just didnt give a fuck. All i can see is a lot of metal junk stuffed on the street like there`s no more room for any other shit. Maybe in Japan you`ll see a lot of robots and coffee-machines, maybe even dick-sucking dolls and little stainless silver puppies. This is the end of the high tech letter, if you don`t like it, byte me.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Algo sobre amor

Eu te olho enquanto dorme
Me imagino no teu sonho
Me conforto apertadinho
Do lado esquerdo da cama

Acordado sinto teu cheiro
Entranhado no travesseiro
Que compraste com afeto
Não pensando no dinheiro
Que já foi em fevereiro

De dia na praia cheia
Carícias no seu peito
Agitando o pré-sexo
Que durou a noite inteira

Como és linda, princesa
Se torce e encolhe
Encostando o traseiro
Na minha coxa direita

Inspira um poema
Que suspira com teu sono
Me levanto na madrugada
De vinte "eu te amos"

Dormir sem dizer nada
Pensar no amanhã
Sonhar acordado
Gozar com gargalhadas

Sou feliz iluminado
nessa escura madrugada
Amanhã acordarei
Com o amor do meu lado

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Quando penso em nada

Dia sim, dia não. Sempre me pego pensando na solidão. Olho o relógio e vejo os ponteiros apontando para algum número. Os números não me dizem nada, somente o tempo em que fiquei acordado pensando em nada. Faço as contas, o cálculo, não o renal, mas o cálculo dos minutos, horas e segundos em que não disse nada. Pego o copo e dou um gole n´água. Alguém me disse ontem, ou antes, que o tempo passaria rápido, mas estavam errados, o tempo é vago e calmo, lento e tarda. Não vejo a hora de ver a hora de novo. Não vejo a hora de não ver nada, somente um vazio escuro ou um sorriso no claro. Já é madrugada. O canto da cigarra me mantém acordado, ou seria um sapo? Nessas horas é melhor cantar junto, ou então me levaria pelo canto da sereia, ou andaria pelos cantos da cidade. Teria pena de mim não fosse pelas frases ditas e escarradas. Minha pele irritada pela coceira de nervoso, de novo dou um gole n´água, que no copo, logo não terá mais nada, no próximo gole. A televisão desligada, os livros empilhados e guardados com cheiro de mofo. Não vou abri-los agora, não quero. Tenho preguiça e descaso pelos ditados dos velhos safados que os escreveram nas noites em claro pensando em nada, agoniados com o barulho da cigarra e embalados pelo tabaco dos cigarros. Mais fumaça, menos um no maço. Já é tarde, mas ainda não escureço. Amanhã tem dia cheio, a noite vazia, somente na mente conto algo em voz interior alta. A forma de escrever já não faz questão. A caneta desliza leve e solta até o acaso, até que pare, até agora.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Nuts and Vodka

-Tequila.
-Excuse me?
-yeah, you heard me. Fill it up.
-No.
-What?
-I said no.
-What?!
-I said no. You heard me.
-Well, you heard me before. I want tequila. Fill it up.
-Well, i´m not gonna fill it up. No.
-Ain´t i paying it? Whatafuck?
-Yes, maybe you are.
-So...
-So what?
-So, i´m not allowed to do it, sir.
-Why not, "Mr. Barman"?
-Sir.
-Sir, what?
-I just said sir, sir.
-Yeah, i heard you. But why aren´t you allowed to do it?
-Sir, i´m just not.
-Okay, give me the reason why.
-I prefer not, sir.
-Are you nuts? Are you fucking nuts?
-No i´m not, sir.
-Stop calling me sir and give me the fucking drink, asshole!
-Sir, i can´t.
-Why not?
-Do you want something else?
-You know what i want.
-I do, sir, but it´s not possible.
-You´re making me...
-Olives, sir?
-No! Tequila! Tequila! The fucking Mexican drink, goddamnit!
-Sir, we are out of Tequila.
-I´ll fucking kill you. Give me the fucking Tequila!
-Not possible, sir.
-Vodka then.
-Olives?
-What now, you don´t have vodka?
-Excuse me?
-Give me fuckin nuts and vodka.
-Vodka?
-The fucking russian drink.
-Yes, sir, we do. How many shots?
-What do you suggest?
-I don´t know, sir.
-Give me a fucking number.
-You don´t have to go down there,sir.
-I am already down there, asshole. Haven´t you noticed?
-No. I´m afraid not.
-Give me a number.
-Okay, sir. Two.
-That´s it?
-It´s up to you.
-No, it´s up to you.
-Why?
-Two?
-No. Why is it up to me?
-Just fill it up.
-Two it is.
-Do you have a life?
-No, not really.
-Okay.

He waits the barman pour the drink into the glasses, drinks them at once, takes out his Magnum and shoots him twice in the forehead.

Free Blog Counter